TERREMOTO EM CHILE

Pode parecer estranho, que este nesta pagina esteja escrevendo sobre o terremoto do Chile. Sou um missionário Chileno que trabalha já faz 5 anos no Brasil, especificamente na Prelazia de Borba no interior do Amazonas. Graças a Deus no Brasil não temos nem terremotos, nem tremores, eu praticamente tinha esquecido esses trecos, mais estou no Chile de férias, programadas bastante tempo antes e me encontrei com um deles. Cheguei a Santiago o dia 5 de março, 6 dias depois do terremoto grau 9, e de 3 dias de viajes desde Manaus no Amazonas, que incluiu uma longa espera em Buenos Aires, com repetidos anúncios da saída de um voo para Chile, o qual era depois cancelado, foi um tempo de muita incerteza e cansaço. Finalmente chegamos a Santiago, no meio de um Aeroporto quase obscuro, com nossas malas no meio da pista, com muito frio (para mim muito gostoso), esperando sair de uma longa fila desde imigração, para entrar em outra para pegar um meio de transporte e poder ir para um hotel. Todo isso deu umas duas horas, de madrugada chegamos ao hotel e ao outro dia ir para a Rodoviária a buscar um ônibus para minha cidade; Concepción, cidade do epicentro do Terremoto do Chile e na qual moram meus pais e duas das minhas irmãs, achamos um ônibus as 13 horas, uma viagem que habitualmente faríamos em 6 horas, foi feito em 24. Chegamos a Concepción, uma cidade que estava no chão, prédios inteiros destruídos, uma cidade sem energia, sem água, nem telefones, nem internet, sem gasolina ou diesel. Ainda hoje não temos água e devemos pegar ela em poços feitos pelos próprios vizinhos, ou em carros de bombeiros ou carros pipas enviados pelas prefeituras ou forças armadas. Estamos com ordem de recolher, o poder civil tem sido transferido aos militares, são eles as máximas autoridades nas cidades, são eles que cuidam da ordem publico, das estradas, dos postos de gasolina, dos supermercados, dos hospitais, das rodoviárias e dos serviços básicos.

Devo fazer menção que fora do terremoto, esta cidade (Concepción) foi na mesma noite castigado com um Tsunami, o porto vezinho a Concepción, chamado Talcahuano e distante a 10 Kms, foi praticamente arrasado, os barcos pesqueiros de grande porte, estão hoje no meio da praça, outros entrarem pelas portas dos prédios deixando eles a ponto de cair, onde antes existiam ruas, casas, prédios e comercio, hoje abunda a desolação,o entulho e os mortos. Bairros inteiros desapareceram, o terremoto fez o primeiro estrago, o Tsunami acabou e rematou vilas inteiras. Muitas pequenas cidades que ficavam na borda costeira foram arrasadas, cidades inteiras desapareceram, muitos morreram e os que não morreram perderam todo... mais tudo mesmo.

Aos poucos vamos re-começando e procurando fazer uma vida normal, entre tremores, alarmes de Tsunami e fugidas as colinas a esperar varias horas a que levantem o aviso e poder voltar a nossas casas e continuar nossos que fazeres. Agora mesmo que escrevo esta nota, tem tremido duas vezes, bastante forte 5,7 e 5,9 graus, com uma diferença de 4 minutos. Nossos sonos se transformam em um constante acordar e dormir, rezar e se encomendar a Deus cada dia e cada noite.

Mais este terremoto e tsunami que tanto mal tem feito têm sacado o melhor e pior de nós. O pior apareceu nos saqueios aos comércios, postos de gasolinas, drogarias, grandes tendas, os preços abusivos dos comércios em geral que vendem a preço de ouro os produtos de primeira necessidade, os cobros abusivos nos transportes e um grande numero de outros abusos. Mais também o bom tem saído fora, a partilha dos bens e alimentos entre os vezinhos e que antes do terremoto nem se cumprimentavam, as longas vigílias noturnas entre os vizinhos, cuidando dos quarteirões das casas e moradores, sempre em volta de um fogo e um café forte e quente, na mais absoluta escuridão, na solidariedade para tirar água dos poços, nas filas para receber à ajuda, em fim em todo aquilo que faz ao homem e à mulher melhor e muito próxima das primeiras comunidades Cristãs.

Que fica agora?, Confiar em que a natureza aos poucos vai se acalmar, que aos poucos as coisas voltaram ao normal, que as labores de limpeza e retirada de entulho continuarão, que pronto nossas casas vão ter água e energia, que não vai ser necessário fazer longas filas para comprar um kilo de pão e levar a casa, que pronto os preços das mercadorias voltaram ao normal e não tenhamos tanto e tantos irmãos e irmãs com fome e falta de saúde. E finalmente que possamos olhar em todo o acontecido a acolhida amorosa de Deus, especialmente aqueles que tem perdido suas coisas e seus familiares, que cada um de vocês possa nos acompanhar como irmãos com sua oração solidaria e que se chagado o momento com seu aporte econômico. Hoje; como já falou uma autoridade no Chile, não sobra ninguém... felizmente nós já sabíamos de isso como Cristãos. Acompanham algumas fotos desta tragédia. Com amizade sincera desde Chile,

Ir. Luis Hormazábal Solar